Setor privado investe na aquicultura para expandir os negócios sustentáveis JBS Net Zero Valor Econ?mico.txt
“é urgente encontrar mecanismos inovadores para atrair financiamento” Climate Impact Summit Valor Econ?mico.txt
A nigeriana Damilola Ogunbiyi,éurgenteencontrarmecanismosinovadoresparaatrairfinanciamentoClimateImpactSummitValorEcon?resultado da quina 11 04 2017 consultora do Banco Mundial: “é importante falar sobre as lutas diárias das pessoas com acesso deficiente à energia” — Foto: Bamas/Wikimedia A transi??o energética tem progredido, mas a um ritmo abaixo do necessário, segundo a Organiza??o das Na??es Unidas (ONU). Para piorar, os avan?os chegam por último àqueles que mais precisam, ou seja, as popula??es vulneráveis de países em desenvolvimento. Combater a desigualdade no acesso à energia sustentável exige inova??es financeiras e institucionais, envolvendo governos, empresas e o terceiro setor, de acordo com Damilola Ogunbiyi, CEO da organiza??o Sustainable Energy for All (SEforALL) e copresidente da agência UN-Energy, da ONU. O foco principal de seu trabalho é o sétimo Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS 7), que trata de energia limpa e acessível. Apesar dos progressos lentos, a ativista aponta que iniciativas de inova??o financeira para garantir o acesso à eletrifica??o vêm se espalhando pela áfrica. é o caso dos “pactos de energia”, da “instala??o universal de energia” e de mecanismos que disseminam redes locais de painéis solares, que podem se tornar modelos replicáveis no resto do mundo. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({ mode: 'organic-thumbs-feed-01-stream', container: 'taboola-mid-article-saiba-mais', placement: 'Mid Article Saiba Mais', target_type: 'mix' }); Ogunbiyi foi diretora da Agência Nigeriana de Eletrifica??o Rural (2017-2019) e do Comitê de Eletricidade da Regi?o de Lagos (2015-2017). Hoje, é consultora do Banco Mundial e do Banco Europeu de Investimento Climático e Ambiental, entre outros. A seguir, os principais pontos da entrevista ao Valor: Valor: Apesar do barateamento da gera??o de energia solar e eólica, a ONU afirma que o acesso à energia pelas pessoas comuns no mundo em desenvolvimento está longe da meta do ODS 7. O que impede que energia sustentável barata se traduza em acesso real? Damilola Ogunbiyi: O investimento global em energia deve ultrapassar US$ 3 trilh?es em 2024, com US$ 2 trilh?es alocados em tecnologias de energia limpa. Mas só 15% desse investimento vai para mercados emergentes, excluindo a China, tanto em termos de volume quanto de participa??o. Isso está bem abaixo dos valores necessários para garantir acesso à energia moderna e atender à crescente demanda por energia de forma sustentável. Uma estatística reveladora é que, nos países de alta renda, o setor privado fornece mais de 80% do investimento, enquanto nos emergentes s?o 14%. Uma das raz?es é que a percep??o de risco nos emergentes costuma ser imprecisa, o que encarece os projetos. é preciso mais colabora??o entre o financiamento público e o privado, integrando projetos de energia de curto e longo prazo em mercados emergentes. é urgente encontrar mecanismos inovadores para atrair financiamento privado e reduzir custos de investimento. Um bom sinal s?o as reformas recentes do Banco Mundial, que visam impulsionar o envolvimento do setor privado em projetos de energia limpa em países em desenvolvimento. Valor: A eficiência é uma meta fundamental do ODS 7, mas recebe menos aten??o do que a gera??o. Os ganhos nesse campo também est?o lentos: 1%, para a expectativa de 3%. Onde está o gargalo? Ogunbiyi: S?o vários fatores. O crescimento populacional, a urbaniza??o e a expans?o econ?mica geram maior demanda de energia, dificultando a redu??o do consumo por medidas de eficiência. Apesar da disponibilidade de políticas e tecnologias comprovadas, o progresso global tem sido lento, situa??o agravada pela pandemia e tens?es geopolíticas. Para atingir a meta de dobrar a taxa de melhoria, vamos precisar de compromissos políticos, além de triplicar os investimentos anuais em eficiência energética, chegando a US$ 1,8 trilh?o até 2030. Em regi?es sem acesso confiável à eletricidade e dependência de biomassa tradicional para cozinhar, melhorar a eficiência é crucial, mas difícil, devido aos desafios de infraestrutura. Investimentos direcionados nessas áreas s?o essenciais para aumentar a disponibilidade de energia, integrar energia renovável e criar sistemas resilientes. Valor: A senhora enfatiza a importancia do financiamento para a sustentabilidade da transi??o energética. Temos mecanismos satisfatórios em vigor? Ogunbiyi: De fato, tenho sido uma espécie de voz solitária, pedindo mais investimentos para atender à crescente demanda do mundo em desenvolvimento por energia renovável. Insisto nisso porque os fundos disponíveis de fontes públicas tradicionais n?o s?o suficientes para atender às necessidades das economias em rápido crescimento e de seus povos. Para preencher a lacuna, os líderes em mercados emergentes devem ser inovadores nas estratégias financeiras. O potencial existe. é preciso um pensamento inovador, juntamente com facilitadores-chave, como estruturas de habilita??o estáveis e previsíveis. Fundos disponíveis de fontes públicas tradicionais n?o s?o suficientes para atender às necessidades” Valor: Na áfrica, a SEforALL tem desenvolvido o projeto financeiro de “instala??o universal de energia” (Universal Energy Facility). Como funciona? Ogunbiyi: é um mecanismo financeiro baseado em subsídios, que compensa os custos iniciais de investidores privados e incentiva projetos em países e áreas considerados arriscados demais. Esperamos poder inspirar outras organiza??es e governos a usar o modelo para acelerar o acesso à energia em comunidades remotas. Outra abordagem inovadora s?o os pactos de energia [energy compacts], que têm sido particularmente eficazes para unir governos, setor privado e cidades, na busca por fechar as lacunas de acesso à energia e acelerar o desenvolvimento de energia limpa. Os parceiros se juntam para estabelecer políticas, impulsionar o financiamento, desenvolver tecnologias e gerar os dados necessários para acelerar o progresso nas na??es em desenvolvimento. Em setembro, foi firmado na ONU o compromisso de implementar US$ 1,4 trilh?o em financiamento até 2030. Valor: O Fundo Verde para o Clima tem estado bem aquém de suas promessas. Há esperan?a para ele? Ogunbiyi: Essas promessas e políticas levam tempo. Hoje, o mundo enfrenta uma miríade de desafios globais, como as mudan?as climáticas, pandemias e conflitos. Muitos países em desenvolvimento lidam com perspectivas de crescimento em declínio, enfraquecimento do investimento e aumento da dívida. No entanto, devemos permanecer fiéis às promessas que fazemos coletivamente. O Fundo Verde é particularmente importante. Se n?o receber financiamento adequado, investimentos em agricultura sustentável, prote??o costeira, reflorestamento e transi??o energética na ásia, áfrica, Europa Oriental, América Latina e ilhas do Caribe e Pacífico ser?o muito limitados. Também gostaria de ver outros fundos reabastecidos, como a Associa??o Internacional de Desenvolvimento, que fornece empréstimos e subsídios sem juros aos governos dos países mais pobres. Sobre esperan?a, posso dizer que, em colabora??o com muitos governos ao redor do mundo, incluindo o brasileiro, estamos trabalhando para elaborar políticas e interven??es que tornem o acesso aos fluxos financeiros mais fácil para as popula??es mais afetadas pelas mudan?as climáticas. Valor: O ex-secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon afirmou que a energia é o “fio de ouro que conecta o crescimento econ?mico, a equidade social e a sustentabilidade ambiental”. O que é preciso para que as energias renováveis estimulem o desenvolvimento? Ogunbiyi: Muitos emergentes podem garantir crescimento e empregos de qualidade estimulando, por exemplo, a produ??o doméstica de energia renovável. é por isso que defendemos a Iniciativa de Produ??o de Energia Renovável, que enfatiza a coopera??o Sul-Sul e a cria??o de oportunidades para empresas se conectarem, aprenderem umas com as outras e formarem parcerias, acelerando a produ??o local de energia renovável, ao mesmo tempo em que focam nas cadeias de suprimentos de minerais essenciais. Aliás, muitos países podem aprender com o Brasil, país que está na vanguarda da transi??o de energia limpa globalmente. Para economias emergentes, onde a demanda por eletricidade cresce rapidamente, o Brasil oferece um exemplo viável para atender a esse aumento com fontes renováveis, principalmente eólica e solar. é por isso que vemos parcerias estratégicas, dentro de um contexto de coopera??o Sul-Sul mais ampla, como pilares essenciais para atrair investimentos e tornar a energia limpa mais barata e competitiva. Valor: Discuss?es sobre a transi??o se concentram em quest?es como carros, avia??o e manufatura. A senhora destaca problemas da vida cotidiana, como cozinhar e refrigerar. Que papel esses tópicos desempenham na transi??o energética? Ogunbiyi: é importante falar sobre as lutas diárias das pessoas com acesso deficiente à energia. Isso n?o é bem compreendido: 685 milh?es de pessoas n?o têm acesso a formas confiáveis de eletricidade. Muitos n?o entendem que essas pessoas recorrem a combustíveis poluentes, que afetam gravemente suas vidas. Em muitos países, a dependência de geradores a gasolina gera emiss?es equivalentes a até mil termelétricas. Há lugares onde geradores de reserva fornecem mais capacidade elétrica do que a rede nacional. Disso resultam efeitos sérios na saúde, nas oportunidades econ?micas e na resiliência climática. A falta de energia limpa para cozinhar afeta um ter?o da popula??o mundial, contribui para o desmatamento e resulta em polui??o do ar doméstico, o que mata prematuramente milh?es de pessoas por ano, sobretudo mulheres e crian?as. Por isso, apoiamos o desenvolvimento de planos nacionais de energia integrada, que definem claramente as metas de um país para eletrifica??o. Esses planos ajudam a desbloquear inteligência de mercado, acessível ao setor privado, a formuladores de políticas e financiadores, gerando dados e insights valiosos, como a identifica??o de áreas prioritárias e a tecnologia de menor custo a implantar. Muitos países podem aprender com o Brasil, que está na vanguarda da transi??o de energia limpa” Valor: A senhora tem alertado para a rela??o entre o acesso à energia e a desigualdade de gênero. Onde se manifesta essa rela??o? Ogunbiyi: Em muitas partes do mundo, as mulheres têm a responsabilidade primária pela gest?o da energia doméstica, incluindo cozinhar, aquecer e iluminar. Porém, a infraestrutura energética tende a chegar às mulheres por último. A falta de acesso à energia afeta mulheres e crian?as desproporcionalmente. Muitas mulheres s?o for?adas a depender de alternativas tradicionais e prejudiciais para cozinhar, como biomassa e querosene, o que as exp?e a níveis perigosos de polui??o do ar doméstico. O resultado s?o impressionantes 3,8 milh?es de mortes prematuras a cada ano. Isto n?o só perpetua a pobreza energética, como exp?e as mulheres e suas famílias a riscos de saúde. Outro aspecto preocupante é que a energia é um dos setores com menor diversidade de gênero. As mulheres s?o 32% dos empregados no setor de energia renovável e 22% no setor de energia em geral. Valor: A senhora se queixa também da insuficiência de dados. O que nos falta saber? Ogunbiyi: De fato, existe uma lacuna nos dados, sobretudo nas áreas de uso da energia e pobreza energética. Esse problema torna muito difícil acompanhar o progresso dos objetivos do desenvolvimento sustentável ou conhecer a informa??o desagregada por gênero. Por exemplo, em certos projetos dedicados a expandir a capacidade de cozinhar sem poluir, podem faltar dados sobre a divis?o entre as institui??es voltadas para meninas e meninos. Com dados melhores, seria possível compreender as diferen?as de gênero, acompanhar o progresso e projetar interven??es focalizadas. Por sinal, essa é a nossa ênfase nas iniciativas de gênero e juventude. Valor: A eletrifica??o rural é um tópico importante do seu trabalho e também é relevante no Brasil. Qual é o potencial das minirredes de gera??o local no campo? Ogunbiyi: Solu??es descentralizadas de energia renovável têm o potencial de fechar a lacuna de acesso em áreas remotas e rurais, onde a baixa credibilidade de servi?os públicos e outros desafios, como a ausência de infraestrutura e baixas densidades populacionais, impedem o progresso na eletrifica??o. Essas solu??es s?o complementares aos sistemas elétricos continentais. Ao usar dados geoespaciais, é possível identificar a melhor tecnologia de eletrifica??o: off-grid [sem conex?o com a rede de distribui??o de energia], mini-grid [sistema local de pequena escala] ou extens?o de rede, com base na densidade populacional e na renda. Estima-se que até 2030 mais de 70% das novas conex?es de eletricidade vir?o de solu??es off-grid ou mini-grid. Sistemas descentralizados de energia renovável ser?o um dos principais fatores para o sucesso do ODS 7. Interven??es governamentais, por meio de políticas e suporte regulatório, podem impulsionar esse mercado, desbloqueando investimentos potenciais e incentivando o fluxo de financiamento do setor privado. Valor: Os combustíveis fósseis ainda crescem, mesmo com esfor?os para descarbonizar. Parece ser um ciclo vicioso. O que será preciso para quebrá-lo? Ogunbiyi: Os combustíveis fósseis s?o sustentados por subsídios, que, globalmente, est?o em US$ 7 trilh?es e devem aumentar para US$ 8,2 trilh?es até 2030. Esses subsídios visam proteger os consumidores mantendo os pre?os baixos, mas têm um custo enorme, levam a impostos mais altos, promovem a aloca??o ineficiente dos recursos e desfavorecem os mais pobres. Remover os subsídios e usar o ganho de receita para gastos sociais mais bem direcionados, redu??es em impostos ineficientes e investimentos em fontes de energia sustentáveis pode transformar o mundo. Valor: Um dos pactos energéticos que a senhora ajudou a criar surgiu em 2021, com o nome de “Iniciativa 24/7 Sem Carbono”, a ser aplicado por grandes cidades. Já é possível descarbonizar inteiramente a eletricidade de uma metrópole? Ogunbiyi: Esse é o objetivo. A iniciativa é um dos 169 pactos já existentes, com lideran?a da SEforALL e do Google. Com a ajuda de governos, ONGs, setor privado e outros atores em todo o mundo, est?o sendo criadas as tecnologias, políticas, ferramentas e ideias necessárias para um futuro em que toda a demanda de eletricidade no mundo seja livre de fontes que emitem carbono. Por ora, o que conseguimos produzir de energia sem carbono, com todos os pactos, está em 459 TWh. Além disso, desde 2021, surgiram mais 353 coaliz?es, o que vai expandir esse número. Valor: Além dos esfor?os para avan?ar em fontes limpas e renováveis, há apelos para incluir novos investimentos nucleares no mix energético. Essa é uma solu??o? Ogunbiyi: Na SEforALL, apoiamos uma transi??o de amplo escopo para os países em desenvolvimento, incluindo o combate à pobreza energética e o favorecimento das prioridades domésticas de crescimento e desenvolvimento em cada na??o. Olhamos para a economia como um todo e apoiamos governos no planejamento energético, no desenho da regula??o, nos mecanismos baseados em mercado, na constru??o de capacidade local. Digo isso porque cada país tem seu caminho para a transi??o energética, n?o prescrevemos o caminho a seguir. Sendo assim, a energia nuclear é uma fonte de baixa emiss?o que pode ter um papel importante, conforme afirma o IPCC. Nós, da SEforALL, apoiamos uma abordagem tecnologicamente inclusiva, em que a energia at?mica é reconhecida como fonte limpa. Mas é preciso deixar claro que qualquer solu??o, incluindo a nuclear, precisa atender às regula??es internacionais de seguran?a.